7.12.09

Beco sem saída

Imaginemos uma família X cuja soma dos salários dos seus membros permite reunir um bom montante de dinheiro ao final do mês. Imaginemos que essa família devido aos seus bons salários e, também ao seu bom-nome junto da banca, consegue comprar várias casas e bons carros. Consegue ainda, numa primeira fase, colocar os filhos em bons colégios e frequentar os melhores restaurantes da cidade.

Imaginemos agora uma família Y que ganha bastante, mas bastante menos que a família X. Imaginemos que os seus membros são anónimos, sem influência junto da banca, e que têm de fazer bem as contas para se “atravessarem” na compra de um apartamento ou de um carro. Imaginemos também, que em vez de irem ao restaurante de luxo vão ao restaurante banal e, mesmo assim, ocasionalmente.

Agora imaginemos que a família X, de repente, vê um dos seus membros ser despedido. Os bancos começam a preocupar-se porque se fiaram demasiado no dinheiro absoluto que aquela família tinha e nas influências que ela exercia sobre a banca. Isto é, emprestaram meio de olhos fechados. Assim, começam a “apertar” a família, que deixa de frequentar os melhores restaurantes, tira os filhos do colégio, vende alguns dos carros e/ou casas que tinham sido financiados pelos bancos (obviamente que vendem mal sob pressão), para poder pagar a prestação.

Esta família jamais conseguirá obter mais financiamento da banca, enquanto não conseguir pagar pelos menos os juros do montante em que se endividou (isto para não contar com o mau nome que fica junto da banca). E tem dois meios para o fazer: ou o salário conjunto aumenta ou então reduz-se drasticamente o que se deve, vendendo o que se comprou financiado.

Por sua vez, a família Y, que ganha muito menos que a família X, continua a honrar os seus compromissos, não entrou em loucuras, não usou a sua influência junto da banca (o que mostra a astúcia da banca) e por isso, continua a ter linhas de crédito para seguir a sua vida. Se precisar de dinheiro para comprar um carro, e se provar que o consegue pagar, os bancos emprestam-lhe.

Agora substituam X por Sporting. Os membros despedidos por sócios desmobilizados. Falta de salários, por falta de receitas. Influência na banca por avales pessoais. Deixar de frequentar os melhores restaurantes e tirar os filhos dos colégios, por falta de capacidade de investir em reforços. Venda de casa e /ou carros por venda de património. E eis a história do Sporting.

Por sua vez, substituam o Y por Sporting de Braga, Guimarães ou outro clube que tenha capacidade de investimento em reforços.

Assim se explica a razão de vermos os outros dois grandes bastante endividados, mas com capacidade de investimento. Daí também se explica a razao pela qual qualquer clube do meio da tabela ter mais capacidade para reforços do que o Sporting. Isto é, há um desfasamento entre a dívida que se criou e o que se é capaz de gerar. Isso pouco tem a ver com o valor absoluto em Euros. Porque o nosso passivo não é maior em termos absolutos que o dos outros grandes e as nossas receitas são bem maiores que a dos restantes 13 clubes da Liga Sagres. Benfica e FC Porto, têm um passivo tão alto ou maior até que o Sporting, mas vão gerando receitas que lhes permitem pagar o serviço da divida (a forma como as geram é diferente e em alguns casos ainda nao muito clara), o que faz com que os bancos lhes disponibilizem linhas de crédito. E qual a razão de termos menor capacidade de investimento que um Sporting de Braga ou um Guimarães? É que esses clubes têm um passivo adequado à sua dimensão, mesmo que em termos de receitas absolutas não se comparem ao Sporting. Os bancos oferecem-lhes linhas de crédito porque sabem que o serviço da dívida é pagável. São como as famílias pobres mas cumpridoras.

Este é o grande dilema do Sporting. Um passivo que foi construído para uma vida de luxo, mas que neste momento não tem capacidade de gerar receitas para pagar o juro da dívida que criou. Ou seja, o problema do Sporting resolve-se de duas maneiras: ou se aumentam receitas para se provar que se pode ter um passivo tão alto, ou se abate o que se pediu emprestado, assumindo que não temos capacidade para gerar receitas. Abater passivo, pressupõe venda de património, o que já foi feito. Mas isso não quer dizer que se tenha mais dinheiro dado pelos bancos, porque os bancos sabem o nosso histórico em termos de "corda na garganta", e a incapacidade para pagar o que nos endividamos. E também sabem que se o incumprimento chegar de novo, nada mais há para vender. Pelo que gerar receitas é a solução. Mas isso pressupõe adesão de sócios. E a adesão de sócios pressupõe equipas competitivas. Isso pressupõe investimento. Mas para investir é preciso dinheiro. E como os bancos não emprestam porque o risco de incumprimento do Sporting do actual empréstimo já é grande, o clube vive neste impasse. É um ciclo vicioso, um impasse que vai ser difícil de resolver, mas que ninguém tem coragem de o assumir. No dia que o fizerem, a desmobilização ainda é maior, as receitas diminuirão ainda mais, e o risco de incumprimento à banca subirá em flecha. Será que estamos condenados a esta morta lenta?

3 comentários:

Bobe disse...

P mim há saída e passa por:
- bom gabinete de prospecção senior (junior já têm)
- vender melhores jogadores e fazer crescer outros
- assumir a desigualdade de argumentos aos socios

Cisto disse...

O que não se compreende no meio disto é:
-e deixam sair o Varela para ir buscar quem?
-e deixam sair o Tello para dar 4 milhoes pelo Grimi?
-e deixam sair o Hugo Viana para investir no Rochemback?
-e acham que o Pedro Silva é melhor que o Miguel Garcia?

Ou seja, uma melhor gestão do patrimonio desportivo poderia ter feito uma diferença, não sei até que ponto significativa, mas estes erros consecutivos pagam-se caros. A mais valia mais relevante do Sporting é a Academia e o unico futuro do Sporting pssa por aí.

frederico disse...

o Sporting deixará de existir num futuro não muito distante...