Como não tenho tido tempo para olhar para os desportivos com alguma atenção escapou-me esta notícia, que pode parecer inócua à primeira vista. O Antunes vai rescindir com a Roma e voltar a Portugal.
Num país (diria mesmo num momento internacional) de escassez de talento na retaguarda esquerda, foi feito algum ruído com o então lateral do Paços. Forte, bom pé esquerdo, levantou logo as antenas de todos quanto pensam que jogadores naquela posição que dêem dois toques seguidos na bola são laterais ofensivos e, ainda, de muitas outras pessoas. O rapaz ganhava espaço na selecção sub-21 portuguesa, chegou mesmo à AA, e foi contratado pela Roma (não me recordo da ordem destes acontecimentos).
Sendo um jogador relativamente lento, poderia ter tido sucesso num dos campeonatos mais fechados que existem. Mas não teve. E, ao não ter, juntou-se a um extenso rol de jovens jogadores portugueses que têm saidas em falso para outros campeonatos. Parece existir algum sindrome João Vieira Pinto (nascido na ida para o Atlético de Madrid ainda muito jovem) que dá estes resultados. Sendo mais actual, é importante saber se o que vem a seguir é o efeito Quaresma ou o efeito Postiga. Ou seja, se volta em grande ou para nunca mais recuperará a sua aura de promessa.
Seja qual for o resultado final, assisto com desagrado a esta saída permanente de jovens jogadores de Portugal antes de ser ver neles alguma consistência de sucesso em vez de apenas uma centelha. (1) porque significa que ainda não tivemos o prazer de os ver em grande no nosso campeonato; (2) porque saem normalmente subvalorizados; (3) porque não estão prontos e acabam por perder uma fase crítica da sua evolução com o risco de nunca chegarem aonde podiam. No fim da (primeira) aventura internacional regressam muitas vezes como refugo em vez de jovem promessa um pouco mais velha.
A coisa pode claro argumentar-se dos dois lados, citando alguns casos que provavelmente nunca teriam sido metade do jogador que foram/são sem ter ido rapidamente para uma liga/clube de maior competitividade. No entanto, tenho a sensação que esta é a excepção e não a regra. E aquilo que me parece acontencer é que acabam por sacrificar uma carreira por dois bons anos de ordenado. No meio de todas as críticas à falta de oportunidades a jogadores jovens portugueses na nossa liga principal, a verdade é que acabamos sempre por ter mais paciência com os "nossos miudos" do que têm com a generalidade deles lá fora - sim, nem todos se chama Cristiano Ronaldo. O Edgar Caseiro é recordado como um caso paradigmático. Saiu dos juniores do Benfica a embadeirar em arco para o Valência e nunca mais o vimos.
Acho muito bem que os jogadores aproveitem as maravilhas da Lei Bosman para circular livremente e tenham experiências pessoais marcantes a viver noutros países. Sei que os grandes talentos portugueses, mas atenção, os GRANDES, vão provavelmente ter uma carreira melhor saindo cedo para uma liga mais competitiva, isto desde que sejam um clube que saibam que vai apostar neles (isto não quer dizer dar-lhes tempo de jogo de mão beijada). Mas "Jogador: se faz parte dos outros 90%, saia por uma porta sólida em vez de escolher a do tapete vermelho amovível que colapsa após a sua passagem". Sobretudo, não sejam Quaresmas a pensar que, após uma época a jogar copm regularidade, não têm nada a provar a ninguém. Pode bem ser a diferença entre ficarem na história e ficarem como mais um que poderia ter sido...
Sem comentários:
Enviar um comentário