Tendo as recentes exibições do Sporting dado uma ideia de aparente desorientação táctica, falta de profundidade ofensiva e fragilidade mental (especialmente no jogo contra o Braga), hoje vi peovavelmente o melhor jogo da era Carvalhal até à data. Apesar da equipa chamada a titular não me ter agradado totalmente (não me parece que Izmailov mereça a titularidade, mesmo que seja importante a sua valorização financeira), os sectores estiveram bem integrados, de maneira geral.
Deste modo, João Pereira - um belíssimo jogador, fantástica contratação - não desiludiu: foi essencial nos movimentos ofensivos, desequilibrando por diversas vezes, e eficiente no desarme. Estudar o Sporting com este elemento em campo em detrimento de outros é um exercício curioso de quão importante os defesas laterais podem ser aos movimentos ofensivos de uma equipa. Foi à linha por diversas vezes, sempre com bons cruzamentos, mesmo em situação difícil, fruto de óptimo entrosamento com os colegas. A sua agressividade chegou a mascarar a lentidão de Izmailov.
Do lado esquerdo, Vukcevic esteve mais activo do que ultimamente e tenho a dizer que Grimi adoptou uma atitude diferente da que temos visto até então. Porém, o facto destes dois jogadores não terem grandes abilidades intelectuais tornou o lado esquerdo, embora com mais remates, menos perigoso que o direito. A capacidade técnica de Vukcevic, capaz de improvisar em situações difíceis criou o belíssimo cruzamento para mais um "quase" de Postiga, no melhor momento do jogo, e é isso que torna o primeiro um jogador tão apreciado pela massa adepta. No entanto, não há também jogador que me suscite mais vezes a encolerizada frase "passa a bola ó filha da puta!" Em suma, decide mal demasiadas vezes.
Adrien esteve ao seu melhor: recuperou diversas bolas, cobriu muito bem os espaços, compensando os avanços de João Pereira com naturalidade. Num Sporting em que Miguel Veloso não jogou e com Moutinho a jogar fora daquela que eu acho que é a sua posição, fica a pergunta: para que quererá o Sporting jogadores inferiores como o Pedro Mendes ou o Manuel Fernandes?
Quanto aos avançados.. têm escola, lá isso têm. Saleiro foi a referência ofensiva, posiciona-se impecavelmente, é inteligente e decide quase sempre bem. Porém, as suas características físicas (não me lembro de ter visto um avançado tão lento no Sporting) e técnicas limitam-no consideravelmente. Na retina, o momento em que contra todas as expectativas não conseguiu apanhar a bola antes que ela saísse pela linha de fundo, ou quando saltou totalmente fora de tempo a cruzamento de João Pereira para o segundo poste. Não me levem a mal: prefiro-o mil vezes a jogadores como Bueno ou Pinilla. Já Postiga, de quem gosto mais, esteve pouco em jogo, muitas vezes a ir buscar bolas à lateral direita (devido à inflexão de Izmailov para o centro). Cabeceou bem, mas, como de costume, rasou o poste. A frustração de Postiga comparar-se-á à de um Don Juan impotente.
As duas situações em que o Sporting esteve em vantagem numérica frente à defesa do Leixões e que não conseguiu aproveitar mostram a eficácia e acutilância dos avançados. Ninguém se pode dar ao luxo de desperdiçar golos em situações de 3 contra 2 ou 4 contra 3.
Nota ainda para a entrada de Pongolle: medo. Muito medo. Pareceu-me quase trapalhão e fiquei com a sensação de já ter visto este filme... A tolerância reserva-se apenas para aqueles de baixo custo. Não quero meter pressão no rapaz, mas quando se revela que se julga ser melhor do que o clube que o contratou arrisca-se a isso. As afirmações de que Pongolle quer passar aqui um ou dois anos para depois ir para um clube a sério, lembraram-me as do Douala quando, no auge da sua carreira, disse que sonhava em ir para um grande europeu.
Matias é um jogador predestinado, não comete erros e tem de jogar.
Não vale muito a pena falar dos centrais: frente a um Leixões murcho, não tiveram muito trabalho. Penso que Carriço poderia melhorar alguns passes longos que faz. Tonel é goleador, já todos sabemos. Patrício teve ao longo do jogo uma excelente defesa (Pongolle fica a dever-lhe uma). É disso que uma equipa que ataca mais do que defende requer: alguém que, mesmo num jogo morno defensivamente consegue não baixar os níveis de concentração e actuar com eficácia e agilidade na única vez em que tal é preciso.
Por mais injusto que me parecem os titulos dos jornais em relação a esta vitória incontestável do Sporting, confesso que se não fosse o Tonel, não estava a ver como é que a bola iria lá entrar...
9 comentários:
Epa vai cagar Cisto. O Sporting não vale um charuto e quem te dera ter alguem como o Pedro Mendes.
como viste o jogo de londres? no tv tuga?
Vasco, o facto de eu estar emigrado não significa que não tenha acesso aos jogos do Sporting, que sigo sempre. Há várias maneiras de o fazer. Se pensas que escrevo uma análise sem ter visto o jogo, és doente.
Apenas perguntei...
Podias ter dito que foste ao café da esquina ver na sport tv inglesa. Não tenho dúvidas que o inglês segue cada jogo do scp.
De acordo em muitas coisas, mas não em tudo. Por exemplo na análise à actuação de Adrien, um jogador claramente a mais num jogo com estas características. Com Matías no banco, como explicar que Carvalhal demore 76 minutos (!!!) a tirá-lo de campo contra 10 jogadores? O Pongolle não me pareceu nada trapalhão (tirando a cabeçada para a própria baliza, claro...) e acho que foi importante na pressão final
nao acho nada que Adrien tenha estado a mais mesmo contra o fraco adversario. Se nao o tivesses ali, ao Joao Pereira nao teria sido permitido os avancos com a frequencia que fez, tendo de resto sido essencial na movimentacao ofensiva da equipa. Neste caso, ter um trinco ali fez directamente que se criassem mais desequilibrios ofensivos nas alas, coisa pouco vista nos ultimos anos de Sporting. Quem esteve a mais foi Izmailov, sem confianca, sem estofo, sem brilho. MAtias e um jogador excepcional e devia estar a jogar, de caras, ai concordo.
O Adrien fez a melhor exibição que o vi fazer no plantel principal. Rápido a pressionar, agressivo e finalmente conseguiu fazer inúmeros passes de qualidade. Curtos, médios ou longos. Passe que andava a falhar nos últimos jogos.
O Izmailov esteve bem na primeira parte, mas foi um desastre na segunda.
Sinal mais para a exibição e golo do "Capitão" Tonel. A relegar definitivamente para o banco o "coveiro" campeão do mundo.
No entanto existe uma vaca sagrada no plantel. O dono da bola. O homem das bolas paradas, dos cantos. Após uma série de insultos antes de marcar o canto, lá conseguiu acertar com um balão na cabeça do Tonel.
Nunca na vida pode ser um 10, muito menos quando se tem Matias no banco.
Com o Adrien a jogar assim, o capitão anão mais alto do mundo, terá de fazer companhia ao Peteirinha no banco de suplentes...
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