16.4.10

Tristes coincidências


Tivesse o Sporting de disputar mais algum jogo com um dos candidatos ao título e, a regra das probabilidades, levar-me-ia a apostar que o árbitro designado seria João Ferreira. Deve ser único no mundo, um “case study”, algo que só se passa em Portugal, que um clube tenha defrontado todos os três clubes que se encontram à sua frente numa volta e, ser arbitrado pelo mesmo árbitro. Mas se o Sporting é um clube a quem acontecem coisas raras, para não dizer únicas, juntemos mais esta triste “coincidência” que se passou este ano.

Na minha opinião, um bom árbitro precisa de apenas duas qualidades: uma boa visão e ter coragem. Na recordação mais longínqua que tenho de João Ferreira, ele revelou uma extrema falta de coragem: foi num célebre Boavista Benfica, em que vi Petit a encostar-lhe a cabeça, quase partindo para a agressão. No relatório do jogo, ao contrário do que escreveu na função de 4º árbitro do último Benfica-FC Porto para o campeonato, João Ferreira nada mencionou, preferindo apenas dizer que se tratou duma expulsão normal, motivada por uma entrada mais dura de um jogador, seguido de umas ofensas verbais. Por isso, Petit levou apenas 3 jogos de suspensão. Mais tarde, constatei num Sporting Paços de Ferreira que ele também não tinha visão. Numa mão claríssima de Ronny, que jogadores do Sporting que se encontravam por detrás dele viram, ele não foi capaz de ver. Ironia ou não, sem esse golo, o Sporting somaria mais um ponto, o que lhe daria o título de campeão nesse ano. Mas João Ferreira alterna a falta de visão com a falta de coragem. Já o ano passado, no FC Porto Sporting, ele viu uma entrada a matar do Lucho sobre um jogador do Sporting. Mais, essa entrada foi nas “barbas” do fiscal de linha. João Ferreira não teve coragem de expulsar o jogador do FC Porto, em pleno Dragão. Depois da polémica do Benfica FC Porto deste ano, em que tomou parte como 4º árbitro, foi vê-lo nomeado na jornada seguinte, para o Marítimo Benfica. Mais uma arbitragem incompetente, com erros graves para os dois lados, e com a expulsão de dois jogadores do Marítimo, que levantaram imensa polémica. Como recompensa do trabalho limpo e sem casos, eis que é chamado a arbitrar na jornada seguinte o Braga Sporting e passado pouco tempo o Sporting FC Porto. Ambos os jogos tiveram lances polémicos, nem sempre bem decididos, mas foram abafados pela superioridade inequívoca dos vencedores, o que fez o árbitro passar pelo intervalo da chuva, sem se molhar. O Benfica Sporting, surge assim, como o culminar duma época em cheio para João Ferreira. E neste jogo, João Ferreira volta a demonstrar que não tem coragem e que tem alguma falta de visão. A falta de coragem ao não expulsar Luisão. A falta de visão ao não marcar faltas passíveis de serem marcadas. No meio destes pequenos episódios que marcam um percurso no mínimo controverso na arbitragem, sei que há pelo menos duas pessoas que elogiam a competência de João Ferreira: Vítor Pereira, porque o nomeia, e Luís Filipe Vieira porque diz que este árbitro lhe dá garantias.

Nos outros jogos com os grandes, o Sporting “apanhou” Duarte Gomes (que tinha à data do jogo, e tem um processo contra o Sporting), o benfiquista Pedro Proença , Paulo Baptista (arguido no Apito Dourado) e Olegário, aquele que não vê mãos na área, mas que vê entradas ríspidas e pontapés ao homem, e julga que as primeiras são dignas de cartões vermelhos e as segundas só de amarelos. Não somos de facto um clube com sorte. Mas olhando para o que nos poderia ter saído na rifa , só falta agradecer não termos levado com Bruno Paixão ou Lucílio Baptista.
Lucílio, esse sim, depois de ter decidido uma final, apareceu ao lado de João Ferreira para arbitrar o jogo mais decisivo da época (como era na altura pela proximidade das equipas e como se veio a provar que foi, pelas implicações que teve), o Benfica FC Porto. Como todas as suas arbitragens, envolveu polémica. Para terminar uma brilhante carreira, e uma vez que a Taça de Portugal já está decidida e, por isso mesmo, não se corre o risco de ser ele a decidi-la, acredito que vá ser o nomeado para dirigir a final deste ano no Jamor. É um prémio de final de carreira que ele bem merece: O Benfica campeão e ele na final da Taça.

Assim, durante a época, foi ver um escasso número de árbitros a percorrem a maioria dos jogos dos quatro primeiros, sendo escolhidos em alternância e como mais convinha, independentemente da incompetência revelada na maioria dos desafios. No meio disto tudo, há alguém que deve estar deveras aborrecido, sentindo-se injustiçado: Pedro Henriques. Ele também prejudicou o meu Sporting (quem não se lembra de dizer que um penalty não era na Luz, quando o fiscal assinalou), mas tinha coragem e seriedade. As pessoas percebiam que havia coerência e o erro, a acontecer, não era premeditado. Deixava jogar e impunha a sua autoridade não pela a arrogância e vaidade, como Lucílio, mas porque os jogadores lhe reconheciam superioridade natural, sem tiques de vedeta nem protagonismo. Num ano em que foi considerado unanimemente como o melhor árbitro de Portugal pela comunicação social e adeptos, apareceu em sexto no ranking oficial da APAF, o que demonstra bem os critérios pouco claros e os jogos de bastidores para definir a ordenação de árbitros. Devido ao facto de ter cometido um alegado erro num Benfica Nacional, mataram-no para a arbitragem. Nunca mais arbitrou o Benfica e jamais é ponderado para os grandes jogos. Será que os Lucílios, Olegários e afins erram menos, e com menos gravidade? Ou será que apenas o João Ferreira dá garantias? Já agora garantias de quê?

Sabendo que o Benfica alega ter a maioria de adeptos e o FC Porto está ligado a um processo “ Apito Dourado”, não posso deixar de ficar admirado por não haver um árbitro que se assuma de um destes dois clubes. Soube-se agora que Proença é do Benfica, mas através de escutas, nunca assumido pelo mesmo. Do Sporting, lembro-me do falecido Vítor Correia, de Vítor Pereira, de Duarte Gomes, de Pinto Correia ou de Pedro Henriques, entre outros. Olhando para a percentagem de árbitros que se assumem como sportinguistas, talvez seja na APAF que o presidente do Sporting tenha que encontrar novos associados.

Ps. Sou suficientemente lúcido para perceber que as razoes pelas quais o meu Sporting não ganha derivam duma presidência incompetente ainda que remunerada. Mas incompetência não se vê só na forma como se gere internamente o clube, mas na maneira como se gerem as relações externas. Sentarmo-nos ao lado de certas pessoas, calando e consentindo perante situações que se arrastam há décadas, levam a que façam pouco de nós. Há situações que são por demais evidentes e, mesmo sabendo que nada mudará, não custa questionar. O Sporting neste campeonato, quanto à luta pelo título, teve o mesmo papel que Portugal na II Guerra Mundial: não entrou mas participou. E os árbitros participaram também nos seus jogos para fazerem o trabalho que lhes encomendaram, consoante mais convinha em cada momento.

8 comentários:

Joao Nuno Rodrigues disse...

Boa crónica!

A presidência incompetente e o péssimo desempenho da equipa, tem deixado para segundo plano a vergonha que têm sido as nomeações.

Será que não existem novos valores na arbitragem?

A par da classe política, é das classes mais merdosas que existem no nosso país...

Bobe disse...

felizmente os árbitros sempre beneficiaram o benfica pq nestes anos que terminámos em 3º e 4º mt provavelmente sem ajuda dos árbitros teríamos descido de divisão.
em contraponto temos um sporting com constantes 2ºs lugares (lugar que mto orgulho detiveram demonstrando com um "Ficámos à frente do Benfica) que se não tivesse sido constantemente roubado teria sido campeão.

A forma toldada como seleccionas os lances a destacar de cada jogo retira alguma credibilidade a um bom artigo.

Gosto de ver que não poes em causa se é ou não penalty, mas uma vez que o fiscal disse, o arbitro tinha de apitar... não sei, eu com pessoas inferiores hierarquicamente tenho em consideração a opinião deles, mas não concordo com ela cegamente. Julgo que um árbitro pode fazer o mesmo. para ti é penalty?

Achas mm q sem o golo do Ronny marcado em setembro, o sporting seria campeão...?

O Pedro Proença sei desde há muito que é benfiquista, isso não o impediu de marcar penaltis escandalosos de jardel na luz... do lisandro no dragão... acho que o árbitro ser dum clube pouco ajuda o clube... de resto, o facto de não saberes árbitros sportinguistas é porque eles como bons lagartos q são em anos sem grandes feitos têm as suas preferencias clubisticas esquecidas...

Mário disse...

Bem escrito. No entanto, encontro-a ( crónica) algo embrenhada naquele espírito "desculpista" que me irrita ligeiramente no caso dos Sportinguistas.Aquela inevitabilidade que é um pau de dois bicos, é boa para desculpar os insucessos, mas má quando são de facto prejudicados. Há que perceber que o Sporting não foi nem é sempre prejudicado. Há que perceber todas as equipas são prejudicadas. Pegando no teu exemplo do último Derby,gostei muito do critério do árbitro em deixar jogar. Achei até que foi uma atitude inteligente do mesmo, pois teoricamente assim teria mais margem de manobra para actuar disciplinarmente. a comprovar o que digo, nos primeiros minutos de jogo, jogadores do benfica, ao mais mínimo contacto atiravam-se para o chão,sem consequências. No entanto existiram erros graves, a já famigerada expulsão do Luisão, e, como é mais que óbvio, a já não tão famigerada expulsão de Miguel Veloso.

Bobe disse...

http://www.arbifute.com/2007/06/conhecer-os-rbitros-portugueses-pedro.html

Pedro Proença foi o melhor árbitro na temporada transacta, arbitrando também a final da Taça de Portugal entre o Sporting e o Belenenses. Proença assume-se como benfiquista e sócio do clube da Luz desde os tempos de criança e a sua filiação clubística é, aliás, conhecida por aqueles que com ele privam de perto.

um qualquer disse...

a estratégia de vitimização de alguns sportinguistas dá-me vómitos!

ana disse...

O autismo de maior parte dos benfiquistas, também me dá...
senhor bobe, "de resto, o facto de não saberes árbitros sportinguistas é porque eles como bons lagartos q são em anos sem grandes feitos têm as suas preferencias clubisticas esquecidas...". Leia lá outra vez a crónica, porque decididamente não a leu com atenção... tal é a ânsia de malhar...

Joao Nuno Rodrigues disse...

Não devem ter lido o PS do Luís Colaço. Se tivessem lido, não fariam determinados comentários.

André Cruz Martins disse...

Excelente artigo como sempre. E como bem frisas no final, não foi por causa dos árbitros que o Sporting não foi campeão este ano. Bonas, não foi o Pedro Proença que apitou o penalty sobre o Jardel, foi o Duarte Gomes. Por que não poderia o Sporting ter sido campeão se não fosse o golo do Ronnie? Na última jornada do campeonato, o Sporting era campeão ao intervalo...