5.5.10

CARLOS QUEIROZ PARA FORA? NÃO. PARA CIMA.


A entrevista de Carlos Queirós hoje n'A Bola (e agora) despertou-me escrever sobre algo em que venho pensando há algum tempo.

Estamos no Mundial. Esse é o primeiro ponto a reter. Com maior ou menor dificuldade, estamos lá. A última vez que falhámos uma fase final foi no Mundial de 1998, quando podíamos ter deixado para trás a Alemanha. Antes, tínhamos ficado 10 anos afastados dos grandes palcos, entre 1986 e 1996.
Saltemos para o presente e uma nação futebolística mal habituada parece preparada para crucificar Carlos Queiroz por ter-se apurado na queima apresentado uma equipa que produziu um futebol decepcionante na maioria dos jogos entre o verão de 2008 e agora. Eu acho que o ex nº2 de Ferguson tem um importante papel a desempenhar na federação num altura que se afigura crítica, não sei é se deveria ser de seleccionador. Vejamos o panorama:

Estamos num momento de mudança no futebol de Portugal. Há muito tempo que uma selecção jovem portuguesa não nos empolga. Felizmente, foram surgindo jogadores de várias formas que preencheram o puzzle. A geração de ouro teve duas sucessoras que pareciam oferecer 2 talentos cada para a glória nacional. Nuno Gomes apareceu com Dani, Simão com Hugo Leal. Como sabemos, só aproveitámos um de cada e, mesmo assim, nunca à altura que se chegou a pensar. Mas o espírito competitivo dos seniores deu-nos Pauleta, Ricardo, Costinha, Petit e Miguel. O Porto deu-nos Sérgio Conceição, Jorge Andrade, Ricardo Carvalho, Maniche, Paulo Ferreira e Nuno Valente. O Brasil deu-nos Deco e Pepe. O Sporting vai lançando jogadores atrás uns dos outros mas os maiores contributos destes têm sido prestados já depois de sair do clube.
Agora há um vazio na baliza. Ricardo nunca foi um preferido mas tinha a confiança dos colegas. Eduardo, Rui Patrício e Quim (não no Benfica mas na selecção) assustam-nos de morte. Nas laterais, temos Bosingwa mas Nuno Valente foi-se sem substituto e Paulo Ferreira e Miguel já estão no percurso descendente. A zona central da defesa ainda é das zonas onde nos sentimos mais seguros – Ricardo Carvalho também já cai mas ainda é um excelente jogador, Pepe é dos melhores do mundo, Bruno Alves é o carniceiro que precisamos e há uma terceira linha decente. No meio campo, Petit e Costinha também nos deixaram algo órfãos. Parece que as melhores soluções ao nosso dispor para a posição 6 são organizadores de jogo recuados como Pedro Mendes (também nos seus últimos anos), Miguel Veloso e Meireles (que queira-se ou não é dos jogadores mais úteis ao plantel das quinas). Maniche acabou para a selecção, Deco está a dois passos da reforma, Tiago, Moutinho e Carlos Martins não parecem passar disto. Nas nossas famosas alas, Ronaldo é dos melhores jogadores do Mundo, Nani está agora bem no Manchester mas Simão (que nunca esteve no seu melhor na selecção) vai desacelerando e Quaresma continua teimosamente a pensar que não tem nada a provar a ninguém e a desperdiçar um dos maiores talentos da sua geração. Sobre o ataque já falei aqui – mas sabemos em que param as modas.
E, de futuro, quem já vemos no pipeline pronto a contribuir? Coentrão poderá ter um impacto no imediato como lateral esquerdo. Varela pode trazer verticalidade e coração à equipa no último terço. Podemos esperar que Patrício evolua para um guarda-redes mais consistente. Veloso poderá vir a ser um jogador interessante se der este ano o pulo para fora (não parece conseguir evoluir mais no Sporting). O juízo ainda está pendente sobre Rúben Micael. No ataque só há suposições - hoje o maisfutebol fala de um assunto já aqui tratado.

Por tudo isto, não me digam que Queiroz tem a vida fácil. Scolari não teve um desafio assim. O que se lhe pedia era que montasse uma equipa com as excelentes opções que tinha e conseguiu se bem que será até justo dizer que, como treinador do Porto, Mourinho teve um papel crucial nesta definição.
Queiroz tem chamado jogadores à equipa cujos méritos não percebemos muito bem. As mudanças não parecem estar a beneficiar a equipa. As suas apostas em Duda, Edinho e outros, não parecem estar a surtir efeito. A sua liderança e desempenho táctico estão a deixar a desejar. Mas será que, na fase em que estamos, não será mesmo necessário arriscar um pouco em algumas soluções “a ver se pega”? Afinal, alguém tem realmente ideia de que equipa teremos para a próxima qualificação?
A sensação que dá é que o futuro foi negligenciado durante a égide Scolari e que este navegou a onda que tinha ao dispor sem criar uma para quem se lhe seguia. Mas este não é o papel da federação? Eu sei que os seleccionadores só treinam de dois em dois meses mas têm de ser eles a tratar de tudo? Do presente e do futuro? Da estratégia de prospecção e desenvolvimento nacional e da criação de uma equipa vencedora?
Pessoalmente acho que o caminho passa por Queiroz num cargo de dirigente máximo da vertente desportiva da FPF - com responsabilidade na escolha do seleccionador/treinador, de coordenação das camadas jovens, de definição de sistemas de desenvolvimento de jogadores em Portugal, etc. Ele será provavelmente das pessoas com mais experiência e que melhor pensa o futebol e o seu futuro mas não tem carisma nem os skills de treinador que dêem as melhores hipóteses de sucesso às nossas equipas sénior.
Diria que os cargos que Queiroz já ocupou, o seu sucesso nos mundiais de sub-20 e das selecções com os jogadores aí lançados, os planos de desenvolvimento futebolístico (como o realizado para os EUA) mostram tanto da sua capacidade estratégica quanto a escassez de títulos como treinador principal o marca nesta função.
Carlos Queiroz para fora? Não. Para cima. O futuro do futebol português agradeceria.

11 comentários:

pvnam disse...
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Joao Nuno Rodrigues disse...

O que será do futuro da Selecção Nacional?
Quando o Porto e o Benfica parecem uma selecção sul americana...
Quando o Sporting pensa que a formação termina aos 20 anos... Quando os jogadores têm os mesmos defeitos ao 23/4 anos, que tinham aos 20...
Que temos a fazer?
Importamos descendentes de portugueses?
Naturalizamos uns brasileiros?
Apostaremos nos estrangeiros que abundam nas equipas de juniores dos três grandes?
Algo tem de mudar no futebol nacional, tendos os três grandes mais responsabilidades, que quaisquer mudanças de gabinete na nossa Federação Portuguesa de Futebol.

Bernardo ON disse...

Concordo com a generalidade do que dizes JN. No entanto, os três grandes, no que toca ao futebol, são hoje equipas de sociedades anónimas desportivas que estão viciadas para pensar apenas no sucesso dos seus séniores, sejam eles de que nacionalidade forem. Só apostaram em formar portugueses se assim decidirem espontâneamente ou por sentirem que existe algum tipo de incentivo (positivo ou negativo) - ex. leis ou perceberem que os adeptos dão importância a isso de modo a que se reflecte nas receitas.
A Federação, essa sim, está incumbida (vulgo é paga por todos nós para isso) de desenvolver o futebol em POrtugal.

Calvin disse...

E de vez em quando alguém escreve com cabeça neste blog. Salvé.

Joao Nuno Rodrigues disse...

Bernardo, o problema é o facto de serem sociedades anónimas desportivas viciadas no sucesso dos seus séniores...
Ou terá sido uma lei bosman que nos "obriga" a vender os melhores...
O pior é que contratamos refugo de várias nacionalidades.
Penso que um estrangeiro só deveria ser contratado, se fosse uma clara mais valia. O que não faltam é estrangeiros de qualidade duvidosa, que tiram lugar e não deixam evoluir os jovens portugueses...
Não temos tido gerações de ouro, mas témos vários jogadores interessantes que se vão perdendo... Paulo Machado, Vieirinha, Fábio Paim, André Carvalhas...
Veremos o que vai acontecer com o Adrien, Ukra, Nélson Oliveira, Diogo Rosado, entre várias outras promessas tapadas...

Bernardo ON disse...

Jn, mais uma vez partilho a tua leituras as tuas preocupações. No entanto, a escolha de estrangeiros que não são mais valias é um problema de pobre política desportiva e não algo a ser simplesmente resolvido com maior aposta em portugueses por apego à causa nacional.
Eu acredito pessoalmente que a opção por jogadores das escolas ou outros talentos nacionais é vantajoso desportivamente para os clubes. Mas, por vários motivos, eles parecem discordar e como organizações privadas têm esse direito.
Resumindo, da tua opinião , disputo apenas que seja das sads a responsabilidade de fazer progredir talentos portugueses.

Bobe disse...

Está longe de ser das SADs ou de qq clube a preocupação do sucesso de uma selecção portuguesa. Eles têm de se preocupar com o seu sucesso e para o atingir estabelecem as medidas apropriadas. A FPF com o poder que tem que também estabeleça as suas.
Contudo não deixa de ser uma pena ver esses jogadores que falas a jogar por clubes menores

Cisto disse...

Tenho sérias duvidas em relaçao à capacidade do Queiroz, seja como treinador, ou como uma especie de dirigente.

Anónimo disse...

Concordo com o Joao Nuno Rodrigues. O futuro da seleccao passa principalmente pelos clubes e aquilo que estes fazem à formação. Basta de desperdiçar talento e dinheiro em gajos como o Balboa, Angulo ou Prediguer quando se tem nas camadas jovens jogadores com mt melhor qualidade e que compreendem os adeptos e as ambições dos clubes. A UEFA e a Premierleague já viram isto e já imposeram regras mais apertadas nas inscrições dos jogadores nas suas competições. Só em Portugal é que a FPF anda a mando dos dos clubes e dos empresários dos jogadores. A culpa nao é do Queiroz. Treinar a equipa do tempo do Scolari era fácil. Agora, nao peçam para fazer limonada sem limoes...

EDU

AMILCAR disse...

Ter estrangeiros com valor,em qualquer clube pode ajudar na formação dos talentos portugueses,não o vejo como algo só negativo,embora não caiba aos clubes,como empresas,esse apego À causa nacional.

De quaquer forma,o nosso país é pequeno,e os talentos não surjem como num país gigante,exemplo do brasil..estes até se podem dar ao luxo de ter 4 super selecções.
Mas na parte que nos interessa,temos de ver o nosso universo, e apesar de produzirmos excelentes jogadores, se contarmos com o tamanho do universo possivel de jogadores por país, o nosso ratio até será o mais alto.
Simplesmente não produzimos o suficiente em termos de quantidade.

Ou seja,em termos de investimento nos moldes actuais,parece-me dificil de rentabilizar a não ser que saia um naldo todos os anos.

Sendo um papel da federação,não me parece facil, embora seja o organismo que poderá criar essas condições,até por interesse directo.
Além dos padrinhos na formação,que como é sabido já levou muitas carreiras medianas ao colo.

No fundo,é sempre um plano a longo prazo.
Não sei como o poderão fazer,nem percebo tão pouco como a federação trabalhará nos seus meandros...
O que posso dizer, é que parece-me que poderão fazer mais do que até agora.

Anónimo disse...

Essa ladainha do fcp e slb terem as culpas pela selecção, devido a terem muitos sul americanos já está gasta, e sem mérito. Os jogadores portugueses bons são caros, e já estão todos a jogar no estrangeiro. Os que são bonzinhos, alguém trata de os convencer que são a ultima bolacha do pacote, pedem logo fortunas de salários e só querem é ir para fora.
Se os nossos grandes querem ser competitivos a nivel europeu, têm que contratar os melhores jogadores que o seu orçamento comporta. Claro que há sempre erros de casting, às vezes por falta de adaptação e não por falta de qualidade. Os nossos jovens podem sempre crescer nos clubes de 2ª linha e serem aproveitados mais tarde, se for caso disso (Rui Costa esteve emprestado ao Fafe...). O problema é que não têm aparecido grandes jogadores nos ultimos anos.