Se me pedissem para listar os jogadores mais talentosos que já vi jogar, iria provavelmente incluir (ainda) entre as duas primeiras dezenas um recém reformado que não teve sucessos individuais assinaláveis, que nunca se afirmou com um indiscutível na sua selecção nem alguma vez saiu do campeonato do seu país, que se encontra na segunda linha do futebol europeu. Falo de Pedro Barbosa, também conhecido como a única pessoa do universo desportivo com um cabelo pior que o do Paulo Bento.
A primeira memória que tenho dele é inserida num contexto muito feliz por remontar ao último ano em que vi um Benfica campeão convincente - 93/94. Na altura no Guimarães, resolveu um jogo com um remate do meio da rua que sobrevoou o guarda-redes adversário. Numa nota lateral, em Portugal, nesta altura, o panorama de clubes fazia lembrar os desenhos animados do tsubasa no sentido em que as equipas de média dimensão tinham quase todos um par de personagens que se destacavam claramente dos demais - alguns exemplos: Salgueiros com Sá Pinto e Pedrosa, Guimarães com Paulo Bento e Pedro Barbosa. A verdade é que este promissor jogador acabou por ir parar ao Sporting e, depois, à selecção nacional.
Jogou uns anos bem, outros mais ou menos, nem sempre foi titular, acabou por ser campeão já no fim da carreira e nunca foi um destaque por Portugal. Em 90% do seu percurso como futebolista pareceu um jogador banal. No entanto, aqui e ali, como no jogo de Portugal na Alemanha, quando fomos escandalosamente empurrados para fora do mundial de 98, o campo era todo dele. Ninguém lhe tirava a bola, não falhava um passe e tinha uma mania bastante irritante de esconder a bola junto de si e avançar pelo meio dos adversários como se pouco o incomodasse que lá estivessem, cruzando de pé direito ou esquerdo de onde bem lhe apetecia (muitas vezes mesmo em cima da linha final). No penúltimo ano de Sporting, quando precisou de renovar o contrato, não existiu possivelmente jogador com maior classe no campeonato português.
Por muitas voltas que dê e como este tipo de talento não costuma funcionar em time-sharing sou sempre forçado a chegar à mesma conclusão: o homem não gostava de jogar à bola. Há outros casos de jogadores que parecem mostrar pouca vontade mas acabam por ser mais bem sucedidos, como Romário (correr não era com ele mas a necessidade de alimentar o ego empurrava-o para a frente) e Paulo Sousa (não tinha que se mexer porque a bola ia ter com ele).
Pergunto-me o que faria um Petit com aquele talento. Sempre achei que Pedro Barbosa era o mais próximo que Portugal teve de Zidane, com capacidade técnica para executar qualquer movimento, à-vontade com a bola, e físico (altura e largura) suficiente para tomar conta de si mesmo. Esta comparação é feita com as devidas distâncias não tanto por carência de Pedro Barbosa mas por um nível de perfeição intocável de Zidane, o Federer do futebol se quisermos.
Por esta altura, já vários poderão estar a preparar-se comentar que perdi a cabeça mas aguardem mais uns instantes... Ainda tenho que dizer que, se quisesse, Pedro Barbosa tinha sido um dos grandes futebolistas europeus do seu tempo.
4 comentários:
epá... tá bem!
pois é verdade, embora discorde que o Pedro Barbosa tenha parecido um futebolista banal em 90% da sua carreira; foi banal em 90% de cada jogo e brilhante nos outros 10%.
o jogo que fez contra o Maccabi Haifa em Alvalade é o maior paradigma deste jogador: 3 golos incriveis e restantes 80 minutos a pisar pastéis.
De qualquer modo, há um jogador que teve tudo para ser ainda maior, e até despontou mais cedo: Dani. ver os seus golos na selecção sub19 contra a argentina por exemplo é uma actividade dolorosa quase.
havia muito jogo em que os 10% brilhantes era quando era substituído. outro que não gosta de futebol qt a mim é o Ricardo Quaresma
Boa análise Bernardo. Aquela época antes de renovar foi impressionante, dava tudo e mais alguma coisa. Mas acho que o problema sempre foram os croissants...
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