22.1.10

Há ou não há coincidências?

1 Nunca fui favorável à nomeação de Sá Pinto para director do futebol do Sporting. Disse-o várias vezes a amigos meus e também tive oportunidade de o escrever aqui. Na minha opinião, devemos sempre condenar os erros dos homens, e não os homens dos erros. Contudo, isso não invalida que, como dizia um célebre escritor inglês, “devamos perdoar os nossos inimigos, mas não lhes devamos esquecer os nomes”.

Sá Pinto protagonizou das cenas mais lamentáveis que já vi no futebol. Se calhar a qualidade e a intensidade dos socos que deu a Artur Jorge e a Rui Águas não foram das mais graves, mas foi o acto em si. Uma coisa, é no calor da luta, na discussão num campo de futebol, numa rixa de rua, alguém perder a cabeça e partir para agressão física. Outra coisa bem diferente, é alguém acordar e, tendo um voo para Marrocos ao meio-dia, meter-se no carro às 9 da manhã, para ir agredir alguém. É um acto premeditado, e que revela uma instabilidade mental e emocional a todos os níveis gritante. Foi isso que aconteceu a Sá Pinto quando agrediu Artur Jorge. Sá Pinto meteu-se num carro, para ir agredir alguém. Acordou, teve tempo para pensar, fez um caminho de carro, onde também poderia ter reflectido, não recuou, e partiu para a agressão ao então seleccionador.

Ou seja, quando se nomeou Sá Pinto para este cargo de responsabilidade, já se sabia do temperamento do mesmo. Claro que o episódio deu-se há 13 anos, mas ele tinha este “cadastro”. E sabia-se também que mesmo passados uns anos, o mesmo Sá Pinto continuava nos campos, a mostrar a mesma instabilidade mental, como por exemplo, ao ser expulso nos últimos quatro jogos com a camisola do Sporting, por duas vezes. Eu sempre ouvi ex-jogadores, treinadores e alguns dirigentes, dizerem que às vezes lhes dava vontade de entrar em campo para resolver. E sempre me habituei a ver pessoas calmas como jogadores, a sofrerem que nem doidos no banco, onde as emoções se sentem mais à flor da pele, uma vez que o contacto com a relva e com o jogo é igualmente intenso, mas a incapacidade de resolver com os pés é total. Por isso, sempre temi o que uma má arbitragem poderia fazer ao Sá Pinto ali no banco. Mas pelos vistos, aquilo que mais temi que um fiscal de linha pudesse sofrer, sofreu o Liedson, mas no balneário. Por isso, sempre o disse: se quisessem Sá Pinto num cargo no Sporting, ok. Mas longe dos relvados, longe da adrenalina, longe do stress.

Mas já agora, há alguma razão para os sportinguistas tanto venerarem o Sá Pinto? Não encontro. Sá Pinto não foi formado nas escolas do Sporting, logo não é uma adoração por ser um menino da casa. Por outro lado, até por ter sido formado no FC Porto, chegou a dizer quando estava em San Sebastian, que tanto lhe fazia regressar a Alvalade ou às Antas. Também não é por ter sido um grande jogador. Foi abnegado, lutador, raçudo. Mas não era um virtuoso tecnicamente, nem tão pouco era um goleador, que resolvesse partidas sozinho. Com a agressão a Artur Jorge, prejudicou e muito o Sporting, desportiva e financeiramente, uma vez que o clube se viu privado de um activo, e teve que vendê-lo a preço de saldo. Conquistou muitos títulos ao serviço do Sporting? Nem por isso: três supertaças, 2 taças e um campeonato, no qual quase não participou. E para não esquecer, a célebre expulsão num jogo de título com o FC Porto, quando o resultado estava 0-0, a quatro jornadas do fim, e em que caso o Sporting ganhasse passaria para a frente dos dragões. Enfim, se alguém me fizer o favor, que me explique o porquê desta adoração ao Sá Pinto. Eu nunca percebi.

2 Sá Pinto disse e bem a Liedson, “ são os sócios que pagam o teu ordenado, e portanto tens de aceitar”. Perdeu a razão na maneira como o disse, e na atitude que teve. Mas a atitude de Sá Pinto, não faz de Liedson um menino de coro. Se bem me lembro, Liedson também teve problemas com Peseiro, com Paulo Bento e tentou também pisar a linha com Carvalhal. Também ele teve em tempos uma atitude irreflectida que nos pode ter custado um campeonato: quando pontapeou uma bola para fora do campo, já nos descontos de um jogo contra o Guimarães, que o impossibilitou de jogar contra o Benfica, no célebre jogo do golo de Luisão. Acredito que Liedson não vai ter vida fácil em Alvalade. Não faltará alguém a fazer lembrar algumas frases como “Estou farto! Não quero saber, nunca mais vou agradecer nada.”, sempre que os resultados não aparecerem. Não faltará alguém a dizer, “ o Sá Pinto é que os metia na ordem, dando-lhes tareia para aprenderem”, apontando como alvo Liedson.Liedson tem uma vantagem: é que o seu talento como jogador, ao contrário do de Sá Pinto, resolve jogos. E isso, pode atenuar a clivagem com a facção pró-Sá Pinto.

3 Não deixa de ser estranho como é que umas horas depois de um jogo, duma cena no balneário, a capa dos três jornais desportivos é igual, narrando os mesmos factos, com os mesmos pormenores: Sá Pinto agrediu Liedson. Se fosse passado quatro dias, se tivesse sido ao ar livre num treino, se cada periódico narrasse a sua história eu não aceitava mas tentava perceber. Agora, desta forma só dá razão a Paulo Bento quando falava de “bufos”, referindo-se ao que passou cá para fora sobre um episódio que ocorreu na Madeira entre Vuckcevic e Liedson. Pelos vistos, o mesmo “bufo” permanece no interior do balneário.

4 Falando em Paulo Bento, este episódio parece dar-lhe razão. Mas talvez não seja só este acontecimento que lhe dê razão. Paulo Bento era acusado de ser inflexível e rígido, teimoso e pouco tolerante. Foi acusado também, de queimar muitos jogadores e de com eles ter uma relação difícil. Vuckcevic era um deles. Será que Carvalhal também anda enganado, também é casmurro e pouco tolerante? Ou haverá outras razoes que o levam a optar por outros jogadores, deixando o montenegrino no banco? Stoijckovic é outro. Será que aquele que se auto-intitulou como melhor da Europa, não era titular do Vitesse ou do Nantes por algum motivo especial? Será que 1 milhão de euros para o Getafe ou para o Everton é um preço demasiado alto a pagar pelo melhor da Europa? E Carlos Martins? Será que quer Jesus quer Quique não apostaram nele por algum motivo? Será que tem a ver com os seus tiques de vedetas, com a sua inconstância exibicional, ou com a sua incapacidade para fazer uma série de jogos? Será que é pelos mesmos motivos que nunca foi titular absoluto no Sporting, mesmo tendo o Sporting tido vários treinadores? E Beto? Será que teve sucesso ou foi titular em algum dos clubes por onde passou depois do Sporting, ao ponto de acabar no quase sempre condenado a descer Beleneneses? E Miguel Veloso? Depois de uma época com tiques de vedeta, será que apareceu no inicio desta época rejuvenescido por alma de quem? Enfim, acredito na seriedade de Paulo Bento, e acredito que alguém que jogou 15 anos futebol ao mais alto nível sabe como lidar com estas vedetas. E sei também que um treinador mais do que ninguém quer ganhar. E se aquilo que às vezes nos parece óbvio não acontece, por algum motivo será….

5 Olhando para o futuro, fala-se em nomes para o lugar de Sá Pinto. Os mais ventilados são os de Paulo Futre e de Carlos Freitas. Paulo Futre seria tão ridículo, como ter Paulo Sousa no Benfica. Alguém que sempre preferiu o dinheiro ao clube, que rescindiu um contrato uma vez e um acordo outra vez com o Sporting, não faz sentido entrar naquela casa. E, se as pessoas mudam, a instituição fica. E, por isso, é preciso ter memória. E a memória que temos de Futre, é de alguém que fugiu do controlo de João Rocha para Pinto da Costa, e quando voltou a Portugal deixou-se seduzir pelo dinheiro de Jorge de Brito em vez de respeitar o acordo com Cintra. Quanto a Carlos Freitas, não o considero incompetente. Acho que fez erros como todos, mas com parco orçamento também fez excelentes aquisições. Mas não seria a minha aposta. Saiu de Alvalade, alegando ser o bode expiatório dos falhanços desportivos, e não é figura consensual no universo leonino, tendo à partida a sua imagem desgastada perante alguns sectores do clube. Entraria, à partida, sem o apoio unânime dos sócios.

6 Se fosse eu a escolher seria José Eduardo. Foi ex-jogador do clube, é sportinguista assumido, percebe de futebol e tem experiência empresarial. Fala bem e tem nível. Não tem passado no dirigismo, o que é positivo, uma vez que não entraria com antecedentes negativos, nem com a imagem desgastada. E quem sabe se a sintonia com o presidente não se resume somente ao nome, e nos leve realmente à tão almejada pacificação!

5 comentários:

Cisto disse...

Com bons olhos vejo mais um excelente texto do Colaco.
Concordo quase que inteiramente. Penso apenas que uma razao importante que levou ao insucesso de Paulo Bento se deveu 'as suas capacidades enquanto treinador. Mas e' evidente que algo maior que isso esta' podre no reino da dinamarca.
Quanto a Jose' Eduardo, penso discordar. A historia nao tem revelado que dirigentes ausentes de experiencia de dirigismo sao demasiado ingenuos e cedo caem. JEB e' um bom exemplo.

Lufibasilius disse...

fiquei mesmo fã deste blog. muito bem analisados os problemas do meu sporting . bastante lúcido mesmo. o site maisfutebol@iol.pt devia por os olhos nisto, neste blog, pois os comentários são vergonhosos e tendenciosos e com um português de 2ª .
Quanto ao Sá, não deixa recordações, e o Liedson não é famoso pela personalidade apenas pelo talento. embora tenha gostado que tenha saido em defesa do patrício, se é que foi assim.
Luis colaço, tu és grande. um bem haja.
cumprimentos de Gaia

Bernardo ON disse...

O José Eduardo ter sucesso como gestor desportivo seria motivo para ficar de cara à banda com o espanto. Mas com o devido desconto porque sempre o achei um imbecil, logo sou suspeito...

Bobe disse...

querem o sheu?

Luís Colaço disse...

Agradeço os comentários dos meus companheiros de blog, mas agradeço em especial ao "Lufibasillius", em nome de todos nós que escrevemos no blog, pelo feedback positivo que nos dá.

um abr