10.2.10

As minorias, as maiorias e os candidatos


No passado Sábado, um grupo de sportinguistas (somos levados a crer que todos ou a generalidade sócios) distribuiu alguns milhares de panfletos junto ao estádio alvalade XXI por ocasião do jogo com a Académica. O texto que abre com a palavra BASTA e fecha com SPORTING, ACORDA, em grande destaque (ver versão integral ao lado), não tinha obviamente muito que ver com o jogo do dia.

O manifesto aqui em causa representa a visão de alguns sportinguistas que (1) consideram que a direcção de José Eduardo Bettencourt é a quarta edição do projecto roquette, (2) o qual parte de premissas equivocas e (3) tem lesado gravosamente o Sporting, (4) talvez até por ter os interesses pessoais à frente dos do clube.

Desconheço a dimensão e o poder do movimento que distribuiu estes folhetos (a acção de guerrilha parecer mostrar que pelo menos querem testar as águas antes de meter o pescoço de fora) mas sinto realmente nos sportinguistas à minha volta (lembro que sou benfiquista mas com simpatia pelo Sporting) uma discordância com o trabalho de José Eduardo Bettencourt. Não sei é se tal terá gravidade para a generalidade deles (falo novamente dos que me circundam) querer a sua saida entre agora e o fim da época. Não sei igualmente se concordam com o alargamento da crítica às restantes direcções até José Roquette (inclusive).

O que sei é que se existe realmente um projecto roquette, ele tem vindo a limpar o chão com os seus oponentes nas eleições do Sporting. Basta ver que nas duas últimas, Soares Franco derrotou Abrantes Mendes com 74,2% dos votos e José Eduardo Bettencourt esmagou Cristovão com 89,43%.

Três opções ocorrem-me imediatamente: ou os que protestam são uma minoria que tem uma discordância de fundo com 8 em cada dez sportinguistas; ou os que rejeitam a linha roquette (assumindo que isso existe) não têm visto candidatos alternativos à altura e dispersam-se/desmotivam-se; ou os sportinguistas gostam apenas de se queixar de forma apaixonada. Dispensando aprofundar a terceira hipótese, gostaria de reflectir um pouco nas duas primeiras.

É comum, sobretudo em Portugal, serem sempre as minorias a operar as mudanças às quais a maioria acomodada acaba por aderir. No entanto, só a história acaba por provar quais as minorias que expressam ou atraiem a vontade geral e as que simplesmente adoptam a atitude paternalista de acharem que sabem o que é melhor para os outros 90%, melhor até do que eles próprios.

A segunda hipótese leva-me a uma interrogação que me tem assolado nos últimos anos, com a relevância (pessoal apenas) de ser pós-graduado em gestão desportiva e com o sonho de vir a trabalhar num clube: Alguém que se dê ao respeito e esteja no seu perfeito juizo aceita hoje em dia ser presidente de um clube desportivo português, principalmente um ligado ao futebol e com grande destaque? Cada vez mais me parece que não. Os adeptos de futebol, mesmo alguns dos mais esclarecidos, ignoram deliberadamente a diferença entre clube e equipa de futebol (erro fomentado pelos clubes com a desajustada politica de financiamente via associativismo). Tal é um dos principais motivos que leva a que alguém (não me refiro a um caso em particular) que desempenhe um bom e dedicado trabalho ao serviço de um clube possa ainda assim ter que aguentar insultos pessoais e até tentativas (ou consumação) de agressões fisicas a si e aos seus porque a equipa de futebol perdeu o último jogo em casa. Terá ainda que tentar resolver questões de fundo do clube em assembleias gerais dominadas pelas hordas e pelas claques as quais são instrumentalizáveis e, por isso, muitas vezes instrumentalizadas. Claro que óptimas listas poderão avançar munidas de coragem e paixão pura ao clube, mas não é fácil.

Toda esta situação me deixa mais dúvidas que resposas mas pelo menos uma base de pensamente parece-me certa: Ao fim do dia, os nossos clubes e o próprio futebol português são aquilo que fazemos deles. E cada um de nós terá o clube que merece.

21 comentários:

Cisto disse...

optimo texto. Uma informação adicional que pode ter algum relevo: o peso de cada voto depende do numero de anos de associado. Assim, 90% de votos nao significa que 90% ds socios votaram em JEB. I.e., há socios que valem 20 votos, outros apenas 1.

Joao Nuno Rodrigues disse...

Nas últimas eleições para o Sporting foi semelhante o número de votante, com o número de votos.

Rogério Alves é o capacho situacionista que se segue. O Sporting continua entregue à bicharada.

Bobe disse...

Em termos gerais, qq pessoa com profissão com algum destaque público arrisca-se a ser alvo de críticas (insultos) por parte de pessoas que nem sempre estão habilitadas para o fazer. num clube de futebol mais ainda porque o desporto é e pode ser encarado com mais emoção que outras coisas mais importantes da nossa vida.

Em termos particulares, o Sporting gosta de se afirmar pela diferença, qts vezes ouvi falar, por parte de sportinguistas, no bem q são os nomes dos dirigentes leoninos relativamente aos do benfica. O que eles são, como eles falam, como eles vestem. Daí que entre um Cristovão bastardo ou um Bettencourt da dinastia Roquette seja fácil perceber quem ganharia

Bobe disse...

Esta busca incessante pela diferença vê-se tb em posts como um abaixo em que denominaram os adeptos do benfica como animais, varrendo-se da memória tudo o que os adeptos do sporting já fizeram esta época e noutras.

Petinga disse...

O texto está excelente.

E pela primeira vez neste blog vou concordar com o Bobe quando ele escreve que entre o Cristóvao e o JEB nao poderia haver dúvidas.

Eu vivo fora de Portugal e portanto só vi fotos dos candidatos aquando das eleicoes no Sporting. Nunca os ouvi falar e limitei-me a ler as ideias de uns e (a falta delas de) outros. Parecia caso para uma disputa pelo menos "renhida".
Depois, ao telefone com amigos Sportinguistas, só ouvi isto como resposta: "O Cristóvao? O PJ? Já viste o gajo a falar? É um arruaceiro de primeira" e percebi logo que as eleicoes iam ser um massacre.
Olha, como a merda de ontem. Temos o que merecemos.

Cumprimentos

Jorge disse...

Se o nr de votos foi aproximadamente igual ao nr de votantes, entao quer dizer q foram em grande maioria sócios com pouca antiguidade a votar. Os mais antigos já tinham desistido até nessa altura...o q me estranha é ainda haver "novos" sócios no vosso clube :-P

Joao Nuno Rodrigues disse...

Jorge, expliquei-me mal.

Os resultados das eleições seriam praticamente os mesmos, utilizando o esquema 1 sócio = 1 voto. Ou o sistema actual que protege a antiguidade.

Apesar de ainda não terem entrado à pedrada no Seixal... Há animais tanto no Sporting, como no Benfica ou no Porto.

Paulo Pereira Cristóvão, se tivesse o apoio do Ricciardi (BES), dos notáveis paineleiros (Dias Ferreira, Oliveira e Costa ou Eduardo Borroso) ou de José Roquette. Ganharia as eleições. Mesmo que concorresse contra um Bettencourt apoiado por sócios anónimos e alguns "terroristas"

Bobe disse...

pois, deixaria de ser bastardo e cristovao passava a ser nome de descobridor

Bernardo ON disse...

joão nuno, isso é um grande SE. É como dizer que se o djaló tivesse o talento do Liedson podia ir ao Mundial.

R Lima disse...

Mas que raio é um benfiquista com simpatia pelo Sporting, oh Bernardo?

Joao Nuno Rodrigues disse...

Ó Bernardo, não é nenhum grande SE.

É claro como água. Existe uma dinastia que só tem feito merda... Quem tem sido apoiada pelos mesmos Roquetteiros... Que se encobrem uns aos outros.
Colocas um boneco qualquer com um nome apaneleirado, que tenha trabalhado na banca (nem que seja como paquete), apoiado pela corja Roquetteira, é o suficiente para limpar as eleições. Coloca-se o lobby Bes a funcionar, com a ajuda da imprensa e temos um candidato. Tão forte, que até se pode dar ao luxo de não ir a debates.

Como é que uma dinastia que pegou num passivo de 30M€, transforma-o em 400M€ e continua a receber votações de 90% dos sócios.

Qual é a explicação disto?

No entanto o bigodes é que era o lobo mau... Curiosamente o bigodes apoiou publicamente a eleição Bettttttencourt... Esse camionista sem carta de pesados...

Bernardo ON disse...

simples. Não odeio clubes (já tive um certo nojo do porto mas desde há uns anos tem-me passado) e por isso tornou-se fácil que, apesar de ser do Benfica (por escolha, não nasci de clube nenhum), tenha vindo a desenvolver simpatia por outros clubes. No caso do Sporting, tem que ver com a simpatia do meu avô pelo clube e pela influência de 2/3 amigos próximos que inclusivamente me levavam aos jogos regularmente.
nos dias em que quero chatear os sportinguistas costumo responder que "sou benfiquista mas também gosto de clubes pequenos".
;)
esclarecido?

Bernardo ON disse...

joão nuno, quando digo um grande SE refiro-me a "apoio do Ricciardi (BES), dos notáveis paineleiros (Dias Ferreira, Oliveira e Costa ou Eduardo Borroso) ou de José Roquette". Se estas pessoas gostam de nomes "bem", dos seus próprios amigos e companheiros de golfe, porque raio haveriam de apoiar o cristovão??
Sinceramente, a mim, a quem o suposto roquestismo não aquece nem me arrefece, o cristovão pareceu-me sempre uma fraca figura - sim, é uma conclusão pouco informada mas é a minha (e não só) reacção à imagem, perfil e comportamento do candidato. As postas de pescada que mandou a propósito do que faria à equipa de futebol não ajudaram a fazer-me mudar de opinião, pelo contrário.
Em qualquer caso, várias pessoas terem um opinião completamente diferente parece-me um grande SE.

Joao Nuno Rodrigues disse...

Caro Bernardo,

Quando uma pessoa já tem uma opinião pré-definida, não adianta mudar o seu sentido de voto.

Uma mentira repetida muitas vezes também resulta no futebol...

Deixo o comentário de um ex candidato da lista de PPC:

"Recordo no dia das eleições ouvir o simpático e divertido Jorge Gonçalves (um patusco e habilmente usado sempre como papão leonino, quando sendo de facto um exemplo de amadorismo fez muito menos mal ao Sporting do que qualquer um dos que se lhe seguiu) me disse falando dos velhos tempos e do facto de constantemente ser usado como sinónimo da desgraça do Sporting que certo dia virou-se para o presidente em exercício (penso que FSF) e atirou algo do estilo: vamos resolver o problema do Sporting? Cada um paga o seu passivo: eu pago o que herdei e deixei, o Cintra paga o dele, o Roquette paga o seu, o Cunha o seu e você o que gerou. Vamos a isto?"

Elucidativo...

Jorge disse...

"Como é que uma dinastia que pegou num passivo de 30M€, transforma-o em 400M€ e continua a receber votações de 90% dos sócios."

Falta de inteligência? O q interessa é ser bem, vestir bem e ter um nome bem...

Já agora, tb podes acrescentar o q (não) ganharam tb durantes estes anos.

Concordo c o Lima...tb fiquei chocado, um Benfiquista c simpatia pelo Sporting...n será mais um Benfiquista c PENA do Sporting? :)

Bobe disse...

Jorge,
infelizmente essa multiplicação de passivo aconteceu nos 3 e não apenas no Sporting.

Jorge disse...

(joão, a afirmacão do passivo é do João Nuno)

Mas concordo ctgo, agora o factor q se multiplicou é q é diferente nos diferentes clubes. E é certo q o menor é do FCP, devido a tudo o q ganharam.

Bobe disse...

mais irónico é o caso do sporting em q aumentou qd as palavras contenção, tecto salarial e rigor começaram a ser mt usadas

Joao Nuno Rodrigues disse...

A diferença é que o Sporting foi praticando uma "gestão de topo". Colocando de lado os êxitos desportivos.

O Benfica foi investindo na equipa. Para colher frutos a médio prazo.

E o Porto continuou a investir e a vencer títulos.

Os relatórios e contas das Sad´s dos 3 grandes é muito semelhante. A nível de receitas a Champions League e a venda de jogadores é o que faz desiquilibrar os relatórios.

Como diz o Bonas, imaginemos se o Sporting não continuasse com esta gestão de topo, com contenção, tecto salarial e rigor...

Outra mentira muitas vezes repetida, está relacionada com o custo de um Estádio e de uma Academia... Na realidade custou cerca de 165M€... Só que nos últimos 15 anos estoiraram mais de 400 milhões de euro em futebol... Passes, salários, etc... Juntando a isto o juro bancário, deduzindo as vendas dos Quaresmas, Simão, Nani, Ronaldo (8M€!!!!!!), Hugo Viana, património não desportivo, etc... Chegamos a este valor de 400M€.
Agora pergunta-se. Mas existem activos???

E eu pergunto quais?
Moutinho, Veloso, Pereirinha e Rui Patrício e pouco mais... Nem o Estádio, nem a Academia está paga...

Jorge disse...

Infelizmente acho q o Benfica nca investiu na equipa para colher frutos a médio prazo...acho q tem sido sempre p colher frutos a curto prazo. Basta ver qtos jogadores entra em saem todos os anos nas últimas 2 décadas.

Acho q só desde q o LFV assumiu a presidência é q esta mentalidade se tem vindo a modificar lentamente, felizmente e finalmente.

Obviamente q o Porto é o clube mais "rico" (ou menos pobre) directa e indirectamente por tudo o q tem ganho. Directamente pelo accesso à Liga dos Campeões, indirectamente pela publicidade/visibilidade e venda de jogadores.

O q queres dizer c "gestão de topo"? Não saber rentabilizar a excelente escola de jogadores q tem? Contencão, contencão, contencão,...venda de património e activos ao desbarato?

Joao Nuno Rodrigues disse...

Caro Jorge,

Ambos cometemos um erro grave de escrita.

Em Alvalade Gestão de topo, leva dois tt´s. Ou seja Gestão de TTopo.

Gestão de TTopo, é o acto pelo qual um sujeito com bom aspectto, ligado à banca, apresenta um projectto, onde pega numa dívida de 30M€ e consegue ttransformá-la em 400M€. Contando com a venda de jogadores, venda de pattrimónio e venda de direittos ttelevisivos para a próxima década.

Esse sujeitto, terá de usar as palavras que referiste: Contenção, Vmoc´s, Project Finance, Redução de custos, entre outras palavras que compliquem o adepto/sócio comum.

No entanto AUDITORIA é a palavra proibida, podendo originar corte de relações, pegando no elemento que ousou proferir tal palavra e expulsá-lo da famiglia.

Vale e Azevedo a comparar com isto é um menino de coro... Um menino de coro descarado...