2.11.09

Desonestidade Intelectual

Já disse isto a vários amigos meus benfiquistas: se as coisas se tivessem passado de um modo normal, o Benfica estaria ainda hoje a meio de um jejum de mais de quinze anos em busca de um campeonato. Só que as coisas não se passaram de modo normal, e o Benfica quebrou um ciclo de mais de dez anos com o campeonato ganho pelo Senhor Trapattoni.

Tudo foi anormal naquela época. O FC Porto perdeu mais de vinte pontos em casa, sofreu sete derrotas, teve três treinadores (por sinal três dos cinco que no longo reinado de Pinto da Costa não foram campeões). O Sporting somou nove derrotas, alternou o fantástico com o horrível, e nunca conseguiu embalar para um ciclo de mais de três vitórias seguidas. Mesmo com um FC Porto e Sporting em plano muito fraco, o Benfica não foi um campeão brilhante, antes pelo contrário Foi provavelmente o campeonato mais nivelado por baixo que me lembro, em que o campeão não foi o melhor, nem sequer o menos mau.

O que fica da memória desse campeão é o penalty do Karadas, o golo do Luisão, os lances de bola parada (livres e penalties) inventados na recta final da prova, os jogos subterrâneos das partidas com o Estoril, e pouco, muito pouco mais. Ninguém se lembra de uma grande exibição do Benfica, é difícil eleger-se o jogador que marcou a diferença na equipa, é complicado vislumbrar quantas vitórias foram por mais de um golo de diferença (foram 4 em 34 jogos!).

Claro que sempre que digo isto, os benfiquistas insurgem-se dizendo que os penalties e livres deram um campeonato ao Sporting de Jardel, esse sim, um verdadeiro escândalo. Claro que se socorrem da estatística para quererem comparar um campeonato como o de 2001/02 com o de Trapattoni. Nas estatísticas vêem 17 penalties a favor do Sporting, e mais não vêem. Nem se dão ao trabalho de perguntar se a maioria foi ou não bem assinalada, se quando foram marcados os jogos já estavam resolvidos, se outros não ficaram por apontar, etc. É o que se chama desonestidade intelectual. Mas ainda bem que há este Benfica de Jorge Jesus para que muitos desses benfiquistas percebam que a estatística por si só pouco vale, que é preciso ver as coisas num todo, inseridas num contexto.

Provavelmente o Benfica vai ser campeão (espero que não e acho que ainda é cedo). Provavelmente (como já vi aqui num companheiro de blog), muitos vão olhar para as estatísticas no final do campeonato e dizer que o Benfica teve “n” penalties a favor, que o Cardozo só de penalty obteve “x%” dos seus golos, que foi raro os adversários do Benfica acabarem com onze jogadores, etc. Mas a maioria, os intelectualmente honestos, lembrar-se-ão do que é que a equipa jogava, do espectáculo que dava, do quarteto maravilha (Di Maria, Aimar, Saviola e Cardozo), das constantes goleadas, etc. Ninguém se vai lembrar dos penalties mal assinalados sobre o Aimar, das simulações do Saviola, das entradas do Javi, etc. Isto tudo, porque independentemente de benefícios pontuais, o Benfica mostra ser bastante superior aos outros (pelo menos nesta fase) como o Sporting foi no campeonato de Jardel.

Se o Benfica for campeão, este Benfica sim, e não o de Trapattoni, poderá ser comparado com o de Jardel. Na qualidade do futebol, na excelência dos artistas e até mesmo nas estatísticas, à primeira vista favoráveis. Espero então, que alguns desses iluminados benfiquistas perceba que o que distingue o campeonato de Jesus e de Trapattoni e deste com o de Boloni, não são apenas estes meros conceitos estatísticos, mas algo mais profundo: a qualidade do futebol jogado que nos ficou na memória.

5 comentários:

Bernardo ON disse...

(quase) totalmente de acordo. Sei que cheguei ao fim do ano em que fomos campeões e pensei e disse que sacrificaria pacificamente os campeonatos seguintes em troca de bom futebol. A verdade é que desde há uns anos para cá comecei a fazer algumas incursões de zapping durante os jogos do Benfica - ainda assim os períodos em que fiz menos foram a primeira metade de campeonato de koeman e a espaços fernando santos.
Este ano, podemos perfeitamente não ser campeões mas não faço zapping. Muitas vezes tenho que conter o reflexo de vómito de ter o Jesus como treindador do Benfica mas pelo menos não tem sido um tédio.

PC Jr. disse...

Atenção que nesse campeonato do Jardel houve um FCPorto que lutou até ao fim...

Atenção que a luta não se limita a Benfica - SCPorting... Há um todo poderoso, que por acaso é tetracampeão, FCPORTO!

De resto concordo com a análise feita do campeonato ganho pela velha raposa - o pior e mais atípico campeonato que há memória (pelo menos na minha - 29 anos)

Luís Colaço disse...

Vamos cá ver...

quem lutou até ao fim com o Sporting nesse ano..foi o Boavista...e só quando o Boavista perde com o Benfica...é que nos sagramos campeoes. O Porto nesse ano lutou até ao fim..mas pela taça uefa...com o Benfica do Jesualdo. so uma vitoria em pacos ferreia..é que valeu.

quanto à luta nao se resumir a benfica e sporting..completamente de acordo. quando digo que ainda nao acabou..refiro-me claro ao FC Porto que continua e bem na luta pelo Penta...

Bobe disse...

Trap e mts italianos são assim mesmo, jogam para o 1-0. Coisa q pouco adepto aprecia. Desse ano lembro-me do aparecimento de Simão, jogador de equipa. E das soluções que a compra de Nuno Assim trouxe. E lembro-me de pensar q embora campeão, não queria mais Trap lá...

Luís Colaço disse...

A equipa era tao fraca que mesmo embalada pela conquista do campeonato e com um penalty inventado ao abrir o jogo, foi capaz de falhar a dobradinha num estadio do Jamor cheio de benfiquistas contra uma equipa orientada por Jose Rachao.

enfim...palavras para quê..?